quarta-feira, 20 de abril de 2011

Variada, revirada, desvairada cultural

Milhões de pessoas das mais diversas expressões tomaram conta do centro de São Paulo. Um espetáculo ornado por dezenas de palcos em cada qual diversos espetáculos aconteceram. Foi a Virada Cultural* 2011.
Eu cheguei tarde. Mas pude ouvir Blitz (porque ver era impossível para quem tem esta estatura) e assistir um balé com São Paulo Companhia de Dança e Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Nos intervalos, bem antes de começar cada uma destas apresentações, tudo era paz. Na iminência e no durante as coisas mudaram.
Blitz com cotovelos, pés, axilas e bundas alheias fazendo lembrar-me a todo segundo que eu não estava só. O sol da tarde colaborava com o calor humano. À minha frente um senhor vestindo uma camisa suspeita - manga comprida neste calor!?, depois eu percebi, não tirava a mão de dentro das calças. Era canhoto. E enquanto movimentava sua mão mais forte, sonhava com a moça ao lado. Geme, geme, Betty, calma!, possivelmente ele pensava. Espanta-me que não se constrangia.
Na plateia do balé havia cadeiras. Mas àquela altura já estavam todas ocupadas. Quem ainda não tinha lugar - inclusive eu - foi se posicionando atrás das cadeiras. Estávamos todos de pé quando uma onda de palmas e brados de senta!, senta!, cobriu-nos fazendo-nos sentar no asfalto e nos convidando a ondear sobre os que ainda não tinham se sentado. Ondeamos, uma multidão, até que abriram as cortinas. E como um casal de idosos ranzinzas, um rapaz de dois metros que se achava o dono da lua e outros gatos pingados que não queriam sujar os fundilhos recusaram-se a colaborar, fomos nos levantando indignados. E tentamos fazer possível deleitarmo-nos com um momento balé com indignação. Sentados estaríamos com o espírito muito mais balé. Como se não bastasse, durante o espetáculo, um grupinho adepto do estar sentado começou a bradar novamente senta, senta. Pessoal, no meio da apresentação?
Veja-se: o mal é pequeno. O mal é pequeno de tão pequeno. Mas tem esse poder imenso de estragar o mundo. Eu respiro fundo e fico com a sensação do tum-tum anos 80 no peito e com a imagem deslumbrante do entrechat do bailarino.


*Evento promovido pela Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo em que, durante 24hs ininterruptas, acontecem mais de mil apresentações artísticas gratuitas para a população.