domingo, 10 de agosto de 2008

FilaFilaFila

Eu não entendo o fenômeno da formação de filas. Ouvem-se por toda a parte declarações de ódio por elas, mas elas estão sempre enormes, saudáveis, também por toda a parte. Parece que há uma espécie de atração inconsciente e incontrolável entre humanos e filas. Uma necessidade de ordem, uma dependência, uma submissão.
Pode ser que a explicação para essa atração fatal e inconsciente seja uma associação primitiva e também inconsciente que se faz entre uma fila e um caminho que leva a algo compensador. Claro! Se há muita gente de pé, perdendo tempo, com o nariz no cangote alheio, é porque há algo bom esperando por ela lá na outra ponta. Bem, às vezes isso é até verdade: há filas enormes que levam a almoçar por um real, outras que levam a shows gratuitos, etc.
Agora, como explicar, por exemplo, o fato de um sujeito ir para o fim de uma fila sem saber para onde ela vai? Uma vez eu precisei pegar uma guia para um exame e perguntei para um rapaz que era o último de uma delas: esta fila é para retirar guias? Ele me disse que não tinha certeza, mas achava que era. Até deu uma risadinha e disse: espero que seja!
Outro fato interessante que me chama muito a atenção é o seguinte. Suponha que você chegue à padaria e seja o primeiro cliente a encostar a barriga no balcão. Você dá uma olhada à sua volta e percebe que além de primeiro é o único, não há ninguém por perto. Você pede seus paezinhos e em seguida olha para trás. A fila já se formou. Há umas três ou quatro pessoas que apareceram sabe-se lá de onde e que, como você, querem comprar paezinhos.
Mas o que realmente me faz expelir bile pelos poros, é a formação de fila para entrar em um evento com lugar marcado. Não faz sentido algum. Nos cinemas, por exemplo, as pessoas fazem fila para comprar o ingresso. Depois, meia hora antes do início da sessão, as pessoas já começam a se organizar, uma atrás da outra, pois cada uma quer garantir um bom lugar, ninguém quer ficar com a cara grudada na tela. Até aí, tudo bem. Acontece que os cinemas estão começando a vender seus ingressos com lugar marcado, mas, perdoe o pessimismo, não sei se vai adiantar. Lembro-me da primeira vez que fui a um cinema desses (Shopping Market Place – São Paulo – rede PlayArte). Fiquei emocionada ao ter que escolher uma cadeira na hora da compra do ingresso, pois já pensava na fila que obviamente não seria formada na porta da sala. Para minha decepção, ela estava lá, forte, comprida, bem alimentada por aquelas pessoas que a odiavam (ou amavam?). Deu vontade de gritar: Gente! Que mania de ordem é essa? Vamos aproveitar este momento e exercitar nossa gentileza!
Confesso que este é um dos meus sonhos. Imagine um monte de gente junta na porta do teatro ou do banheiro público, sem que ocorra nenhuma formação padronizada. Como seria a ordem de entrada? Seria tão difícil assim, cada um ceder a sua vez? Imagine: Por favor, agora você. Obrigado. Eu tomei muita cerveja! Sim, pois não, pode entrar.
Bem, enquanto meu sonho de um mundo sem filas não é realidade vou esperar aqui mesmo. Fazer o quê?