Milhões de pessoas das mais diversas expressões tomaram conta do centro de São Paulo. Um espetáculo ornado por dezenas de palcos em cada qual diversos espetáculos aconteceram. Foi a Virada Cultural* 2011.
Eu cheguei tarde. Mas pude ouvir Blitz (porque ver era impossível para quem tem esta estatura) e assistir um balé com São Paulo Companhia de Dança e Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Nos intervalos, bem antes de começar cada uma destas apresentações, tudo era paz. Na iminência e no durante as coisas mudaram.
Blitz com cotovelos, pés, axilas e bundas alheias fazendo lembrar-me a todo segundo que eu não estava só. O sol da tarde colaborava com o calor humano. À minha frente um senhor vestindo uma camisa suspeita - manga comprida neste calor!?, depois eu percebi, não tirava a mão de dentro das calças. Era canhoto. E enquanto movimentava sua mão mais forte, sonhava com a moça ao lado. Geme, geme, Betty, calma!, possivelmente ele pensava. Espanta-me que não se constrangia.
Na plateia do balé havia cadeiras. Mas àquela altura já estavam todas ocupadas. Quem ainda não tinha lugar - inclusive eu - foi se posicionando atrás das cadeiras. Estávamos todos de pé quando uma onda de palmas e brados de senta!, senta!, cobriu-nos fazendo-nos sentar no asfalto e nos convidando a ondear sobre os que ainda não tinham se sentado. Ondeamos, uma multidão, até que abriram as cortinas. E como um casal de idosos ranzinzas, um rapaz de dois metros que se achava o dono da lua e outros gatos pingados que não queriam sujar os fundilhos recusaram-se a colaborar, fomos nos levantando indignados. E tentamos fazer possível deleitarmo-nos com um momento balé com indignação. Sentados estaríamos com o espírito muito mais balé. Como se não bastasse, durante o espetáculo, um grupinho adepto do estar sentado começou a bradar novamente senta, senta. Pessoal, no meio da apresentação?
Veja-se: o mal é pequeno. O mal é pequeno de tão pequeno. Mas tem esse poder imenso de estragar o mundo. Eu respiro fundo e fico com a sensação do tum-tum anos 80 no peito e com a imagem deslumbrante do entrechat do bailarino.
*Evento promovido pela Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo em que, durante 24hs ininterruptas, acontecem mais de mil apresentações artísticas gratuitas para a população.
Eu cheguei tarde. Mas pude ouvir Blitz (porque ver era impossível para quem tem esta estatura) e assistir um balé com São Paulo Companhia de Dança e Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Nos intervalos, bem antes de começar cada uma destas apresentações, tudo era paz. Na iminência e no durante as coisas mudaram.
Blitz com cotovelos, pés, axilas e bundas alheias fazendo lembrar-me a todo segundo que eu não estava só. O sol da tarde colaborava com o calor humano. À minha frente um senhor vestindo uma camisa suspeita - manga comprida neste calor!?, depois eu percebi, não tirava a mão de dentro das calças. Era canhoto. E enquanto movimentava sua mão mais forte, sonhava com a moça ao lado. Geme, geme, Betty, calma!, possivelmente ele pensava. Espanta-me que não se constrangia.
Na plateia do balé havia cadeiras. Mas àquela altura já estavam todas ocupadas. Quem ainda não tinha lugar - inclusive eu - foi se posicionando atrás das cadeiras. Estávamos todos de pé quando uma onda de palmas e brados de senta!, senta!, cobriu-nos fazendo-nos sentar no asfalto e nos convidando a ondear sobre os que ainda não tinham se sentado. Ondeamos, uma multidão, até que abriram as cortinas. E como um casal de idosos ranzinzas, um rapaz de dois metros que se achava o dono da lua e outros gatos pingados que não queriam sujar os fundilhos recusaram-se a colaborar, fomos nos levantando indignados. E tentamos fazer possível deleitarmo-nos com um momento balé com indignação. Sentados estaríamos com o espírito muito mais balé. Como se não bastasse, durante o espetáculo, um grupinho adepto do estar sentado começou a bradar novamente senta, senta. Pessoal, no meio da apresentação?
Veja-se: o mal é pequeno. O mal é pequeno de tão pequeno. Mas tem esse poder imenso de estragar o mundo. Eu respiro fundo e fico com a sensação do tum-tum anos 80 no peito e com a imagem deslumbrante do entrechat do bailarino.
*Evento promovido pela Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo em que, durante 24hs ininterruptas, acontecem mais de mil apresentações artísticas gratuitas para a população.